O curta-metragem documental "Entre Rios", de Caio Silva Ferraz, conta a história da urbanização de São Paulo, ele mostra como ela ocorreu e quais foram as consequências do modo como ela se teve. É um filme todo embasado em fatos históricos e algumas críticas políticas, tudo isso envolto pelas relações da cidade e dos rios ao seu redor.
O curta se inicia antes da chegada dos portugueses, quando a população já aqui presente buscavam se instalar em localizações favoráveis, o que estava diretamente ligado aos arredores dos rios. Com a chegada dos colonizadores, esse lugar passou a ser ocupado por eles. Marcando o início da ocupação privilegiada do espaço urbano.
As relações com os rios é mostrada na medida em que os rios que anteriormente circundavam a cidade foram substituídos por outros rios, pois o território aumentou e os anteriores foram obrigados a desaparecer, o que era rio acabou virando estrada.
A estrada vem como elemento importante no documentário, na medida que é impossível falar sobre urbanização sem trazer a tona os investimentos que foram feitos para a industria automobilística e as consequentes críticas que vem com este assunto, evidenciando a irracionalidade desses investimento da época, e como é dito no curta, o perigo dessa história se repetir nos dias de hoje.
Após substituir os rios, a urbanização acaba sendo responsável por esconde-los também, surgem os esgotos. E como a professora Odete Seabra bem aponta no filme "nós inventamos as enchentes". O documentário mostra como a urbanização paulista foi violenta e rápida, ocupando espaço na medida em que visava o crescimento econômico e uma expansão sempre extremamente conservadora. As enchentes e a marginalização da população mais carente são apenas algumas das consequências dessa desordenada urbanização.
A urbanização é um processo inevitável e necessário para uma sociedade em evolução, ainda mais em uma cidade com a importância econômica e social como São Paulo. Mas assim como vários outros processos históricos ocorridos no Brasil, não houve um planejamento adequado e os objetivos visados foram equivocados e restritos. Talvez com uma mentalidade mais inclusiva, hoje, teríamos uma cidade mais ordenada e funcional, o que beneficiaria a todos, inclusive a economia da cidade.
O filme poderia ser visualmente e narrativamente mais interessante, variando entre entrevistas com especialistas, algumas imagens da cidade e imagens de arquivo que trazem um contexto histórico, envoltas por uma narração constante, o que aproxima o curta mais de um documento histórico e menos de um filme de entretenimento, o que talvez seja apropriado para sua temática. O conteúdo funciona para a intenção do curta, ele monta uma linha do tempo que mostra com clareza o desenvolvimento da cidade, ele não se mostra parcial e ainda sim traz críticas interessantes para a história.