A palestra de Raquel Rolnik deixa mais evidente algo que venho pensando nesses últimos tempos que consumo produtos culturais relacionados a modernidade urbana, muitos deles vêm embasados de críticas, mas a aula de Rolnik deixa claro um aspecto de segregação social e cultural que se torna difícil de ignorar uma vez que é trazido à luz.
Rolnik discorre sobre a população literalmente marginalizada que vive nos meios urbanos. Ela traz um panorâmico histórico sobre a ocupação desse povo e sobre a falta de direitos decorrente da ambiguidade na forma com que enxergamos a estadia desses indivíduos. Seu ponto principal é a luta pelo direito á cidade e as diferenças dessa luta nos tempos modernos, quando comparada com meados dos anos 1960 e os anos 1970.
Nessas décadas, até o fim dos anos 1970, houve uma grande migração do campo à cidade, mas essa população jamais foi incorporada ao espaço urbano, ela foi deixada nas margens, viveram favelas, aglomerados. A ambiguidade vem do fato de não sabermos se essas ocupações são legais, ilegais, permanentes ou temporárias.
Ela exemplifica as preferencias dos investimentos governamentais falando sobre os investimentos nas estradas e automóveis, em uma época em que somente a classe média alta, que eram poucos, possuíam veículos, enquanto os transportes públicos, que seguindo ela geram um lucro significativo, são até hoje deixados de lado.
Além disso há a questão dos lucros, principalmente depois das privatizações da década de 1990. Os investimentos, nesse caso nas políticas urbanas, serão direcionados ao que irá gerar mais lucro, o que evidentemente envolve a população com poder aquisitivo maior.
Rolnik caracteriza as lutas dos anos 1970 como passivas, faziam parte de um movimento de demanda, que pedia ao Estado, que esperava e não agia. Segundo ela, a grande diferença dessas lutas com as manifestações de junho de 2013, e os demais movimentos que discorrem depois desse ano, é que apesar de reivindicações parecidas, a tendência agora é que a ação esteja mais presente. Em detrimento a esperar pela ajuda do Estado, as pessoas promovem a ocupação das cidades, com mais autonomia.
A palestra da professora traz a noção de que ordem urbana não se trata somente de reformas e espaços culturais modernos, mas também uma questão social que ainda se encontra em plena desordem, em meio a ocupações que são evacuadas e a uma população marginalizada que permanece ambígua perante à maioria, é necessário reavaliar a ordem urbana que estamos promovendo, pensando em uma escala que englobe a todos e não uma minoria.